O
cartão magnético era um objeto estranho para Lucy, assim como a sequencia numérica
acompanhada de letras usada para operar a máquina. Dentro do banco havia várias
máquinas diferentes, com funções diferentes.
Ela
precisava retirar o dinheiro para comprar um presente para o neto, mas não
sabia o que fazer para sacá-lo e isso a aborreceu. Lucy pediu ajuda para um
homem que usava um crachá nas cores do banco e sem cerimonias ou mais perguntas
entregou-lhe cartão e senha.
Ela
atentou com certo ciúme na agilidade do homem operando o caixa. Em segundos o dinheiro
pulou de dentro da máquina.
-
Veja é uma facilidade! Usando os caixas aqui a senhora não precisa ficar na
fila do caixa convencional, disse ele satisfeito em poder ajudar.
-
É perigoso entregar a senha e o cartão para outras pessoas. Emendou o homem.
A
senhora envergonhada diante daquele ser prestativo, pegou o dinheiro e
agradeceu a ajuda.
Ao
sair do banco Lucy continuou observando a cidade ao seu redor. As ruas estavam tão mudadas que Lucy sentia
andar por outro lugar. Um mundo cada vez mais complicado cheio de sinais para
pedestres, letreiros, outdoors eletrônicos, câmeras, computadores, celulares e
máquinas. As pessoas passavam desatentas ouvindo música com seus fones ou
falando alto ao infinito. Os olhos perdidos. Lucy estava acostumada a depender
dos netos, sem eles, andava numa cidade da qual estava sendo excluída aos
poucos.
Ela
não poderia reclamar, afinal, como disse o homem no banco “quanta facilidade”.
Alguém poderia chama-la de dinossauro se dissesse alguma coisa. Mas não concordava com tudo aquilo. Entretanto
ela era apenas um sussurro tremido em meio ao vento uivante que celebra as mudanças.
Que
presente ia dar ao neto. Um Livro? Não o neto já baixava muitos livros
virtuais. Algo eletrônico “facilitador”? Um daqueles telefones celulares com
dez funções? Não, poderiam enganá-la durante a escolha. Ela não queria ver o
neto recebendo uma novidade ultrapassada. Lucy queria algo que englobasse tudo.
Que superasse as expectativas do menino. Presente digno de 22 anos. Afinal, ele
a ajudava tanto. Tinha tanta paciência. Paulinho merecia.
Lucy
atravessou a rua e avistou uma loja grande repleta de aparelhos eletrônicos na
vitrine. Quem sabe aqueles óculos!? Sim! O presente perfeito para o neto era um
par de óculos dos quais ela ouviu falar num programa de TV. Já havia no Brasil?
Não era telefone, mas dava para falar. Um facilitador porque as orelhas se
encarregariam de transportá-lo. Mas e a bateria? O neto ia logo aprender a
manusear. Sem grandes aparelhos o menino poderia viajar e acessar a internet
obtendo informações dos lugares. A mãe de Paulinho não compraria para ele.
Jamais! Sem o risco de presente repetido. E o melhor de tudo ele ia bater uma
foto e comentar no facebook: Presentão da vovó Lucy.